segunda-feira, 29 de agosto de 2011

A (não) Cultura da Vitória

Fotografia: http://www.record.xl.pt/
O culto de uma determinada identidade, pode e deve ser visto como uma ferramenta de gestão de uma MARCA.
Há os que o fazem conscientemente, outros que o fazem inconscientemente e ainda os que não o fazem de todo de uma forma ou de outra.
Uma MARCA culta, tem força e tem chama, porquê? Porque cultiva o gosto pelo melhor de si, porque cultiva o gosto pela procura constante de querer ser melhor, porque expõe com orgulho o que tem de bom e/ou de diferente e porque protege o que tem de menos bom. E para além disso, transmite esta cultura aos seus seguidores, consumidores, parceiros. Isso torna-a forte e coesa, capaz de alimentar os que lhe são fiéis e ainda inflamar aqueles que lhe são mais distantes.
A cultura de uma identidade, tal como outros tipos de cultura, dão “trabalho”, precisam de saber científico, saber empírico, e até de sabedoria popular, para que no dia-a-dia possa ser estimada e o seu crescimento sustentado.
Ora e exactamente isso que não acontece hoje em dia na grande maioria do Desporto português. Desde “IDP’s” a Federações, de Associações Distritais a Clubes e passando pelos Atletas Individuais, poucos são os casos da cultura da identidade, da valorização do seu produto.
Motiva-me a escrever sobre este assunto, as noticias sobre as justificações apresentadas para os desaires dos nossos atletas em Daegu, Coreia do Sul, no decorrer dos Campeonatos do Mundo de Atletismo, fazendo-me recordar que esta situação é recorrente para justificar o falhanço do desporto português, apontando-se o dedo acusar ao fim e nunca ao processo.
Motiva-me ainda mais a actual situação do Sporting, não tanto pela ultima derrota em si ou a conquista de apenas dois pontos em nove possíveis, tendo já jogado em Alvalade duas vezes, mas pelo facto de não conseguir encontrar uma identidade no clube, uma cultura.
Tal como no atletismo, o Sporting prefere apontar o dedo a terceiros para justificar os seus falhanços. Sem razão, a meu ver, e acima de tudo fazendo exactamente o contrário à cultura da identidade, destruindo-a. Já alguém, da estrutura directiva do SCP, pensou olhar para o umbigo e tentou analisar o processo em vez das consequências? Não é difícil, querem ver?
- Vitória duvidosa nas eleições;
- Dezasseis novas contratações para o plantel do Futebol (incluindo jogadores lesionados);
- Destas apenas os juniores que integraram o plantel são Portugueses, ou seja, dificilmente farão parte das contas do treinador;
- Resultado um plantel descaracterizado, sem ligações, sem rotinas;
- Rotação constante de jogadores pelas posições, durante os cinco primeiros jogos oficiais;
- Demissão do departamento médico;
- Exacerbação e desadequação do discurso: “vamos ser campeões”, logo excesso de ambição por parte da massa adepta e eventualmente excesso de confiança por parte da equipa;
- Perda de sete pontos com três equipas, no mínimo medianas;
- Utilização de erros de arbitragem para justificar maus resultados e más exibições;
- Braço de ferro com a Liga e a sua Comissão de Arbitragem, num momento tão determinante quanto o início de uma competição

Tudo isto são acções contra a cultura da identidade e o resultado está à vista.
E se, depois de olharem para o umbigo, pararem dez minutos a olhar para trás poderão perceber o que é a identidade, neste caso do Sporting, constarão que uma boa identidade não são as vitórias por si só, mas sim a atitude perante a modalidade (no caso do futebol) e a sociedade (por parte do clube em geral).
Tempos houve que o SCP nem sequer competia para ser campeão e que esteve dezoito anos sem o conseguir, mas tinha uma média de adeptos por jogo superior às de hoje, e na altura muita vezes superior à dos adversários candidatos ao titulo, tinha um número de sócios activos superior, os seus jogadores tinham a média de idades mais baixa do campeonato ou perto disso, era o clube com maior número de português (dos candidatos ao titulo), lançava constantemente jogadores da sua formação, tinha praticamente todas as modalidades e cultivava esse eclectismo, colocava-se perante a sociedade como um clube diferente.
O Sporting não ganhava campeonatos, mas tinha uma identidade da qual os seus sócios e adeptos partilhavam, viviam, estimulavam e apreciavam. Apesar de também quererem vitórias, sabiam que o que era o Sporting, o que esperavam do Sporting e quando as vitórias chegassem seria a cereja em cima do bolo, tal como aconteceu nas últimas conquistas.
Hoje e seguindo esta política errante em busca apenas da consequência (a vitória), sem método e sem base de sustentação, como remédio para todos os problemas, o Sporting Clube de Portugal, arrisca-se a se tornar um clube banal.
Recordo que nem todas as MARCAS líderes de mercado são as melhores MARCAS, ou aquelas que têm uma maior identidade ou apresentam uma taxa de fidelização superior. Inclusivamente será mais sustentada a construção de uma marca lidere de mercado a partir de uma MARCA com uma grande identidade e taxa de fidelização superior.
Não importa dizer que se querer ganhar ou atingir determinados resultados, importa sim construir ferramentas para o conseguir fazer. A vitória será sempre vista uma consequência, nunca como um processo.

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