terça-feira, 11 de janeiro de 2011

A inversão da pirâmide...

Nota introdutória: o texto fala de uma modalidade recente, com cerca de 20 anos de história, que apenas em Sidney entrou como modalidade de demonstração nos J.O. e que face às suas características, conseguiu por direito próprio a partir de Atenas um lugar permanente nesses mesmos Jogos.

Fala-se de uma modalidade dominada por Russos, Ucranianos, Kazac's e Chineses, onde Portugal, entre os 16 lugares disponíveis para cada sexo, garantiu para si um lugar nos Homens e outro nas Senhoras.

Falemos então de Trampolins!

Em 2009, realizaram-se em S. Peterburgo, os Campeonatos do Mundo absolutos (CMA) e os Campeonatos Internacionais por Grupos de Idade (CIGI), sendo que a Federação Portuguesa de Trampolins e Desportos Acrobáticos (FPTDA), federação que tutela(va) a modalidade em Portugal se faria representar pela Federção de Ginástica de Portugal (FGP), uma vez que a Federação Internacional de Ginástica (FIG) apenas reconhece uma federação por país como representante das modalidades gímnicas.

Tudo certo, ao abrigo do protocolo de representação assinado pela FGP e FPTDA.

No inicio de 2010 a FGP é suspensa, pela FIG, de toda a sua actividade internacional por a FPTDA não ter cumprido com os pagamentos devidos à organização das competições acima referidas.

Esta situação cria duas bolas de neve, paralelas, e altamente dizimadoras.
1. uma crise institucional que leva à reivindicação por parte da FGP da tutela das modalidades de Trampolins e de Desportos Acrobáticos.
2. uma crise interna, onde se descobre que a FPTDA está falida e foi vitima de diversas fraudes, por parte dos seus dirigentes.

Não entrando em pormenores sobre os desenvolvimentos e atalhando caminho até ao resultado final: em meados de Janeiro de 2011 a FPTDA informa que não conseguiu manter o estatuto de utilidade publica e que a tutela destas modalidades passa para a FGP.

Independentemente das legalidades, dos trâmites processuais, e de toda a burocracia, parece que toda a gente se esqueceu de uma coisa importante, a actividade desportiva propriamente dita e consequentemente dos intervenientes directos: ginastas e treinadores.

Para uma modalidade olímpica, onde o nível tem crescido significativamente nos últimos anos, em que as exigências são cada vez maiores, pergunto de que forma não se comprometeu já um ano inteiro de trabalho. Um ano que por acaso é só de apuramento para os Jogos Olímpicos de Londres.
a) supostamente a época começa em Janeiro, apesar todos terem começado a trabalhar em Agosto, para as primeiras competições que se iniciam em Fevereiro, sem saber quais os regulamentos a aplicar, exigências técnicas e calendário de provas.
b) esta situação mantém-se, apesar de a Comissão Administrativa da FPTDA ter procurado assegurar, pelo menos, o calendário de provas. Calendário esse que não é garantido que seja aceite pela FGP.
c) só agora foi lançada candidatura para o lugar de Director Técnico Nacional para a modalidade de Trampolins.
d) não está definido um regulamento de selecções.
e) os treinadores que fizerem formação em 2010, ainda não têm os seus certificados.
f) etc...

Em suma, de uma maneira ou de outra, propositadamente ou não, com todas estas disputas, foi esquecida a essência deste "negócio": a modalidade em si. Perdeu-se o respeito pelos ginastas, profissionais e clubes e permite-se que uma modalidade olímpica, com resultados assinaláveis dentro do panorama nacional, ande à deriva. 

A tutela, procurou ser politicamente correcta e não agiu de forma rápida, decidida e firme (independentemente da opção que tomasse), não conseguiu ver a gravidade da questão além da questão burocrática e esqueceu que são os ginastas, acima de tudo, e os técnicos que dão a visibilidade aos clubes, às associações, às federações e ao país e não o inverso. 

Arrogantemente permitiu-se que a pirâmide das prioridades que a modalidade e a sua competição fosse invertida. Não foi assegurado que a base continuaria a funcionar com condições, de forma a sustentar as alterações de topo que se entendessem fazer.

Ginastas, treinadores e clubes não pararam, obviamente, apesar do limbo institucional. Mas não lhes foi dada a segurança que se exigia, as certezas e as condições que merecem. O topo, porque a sua miopia não lhe permitirá enxergar mais além que o próprio umbigo, vangloriar-se-á deste trabalho, que a base à sua própria conta e despesa produziu. Não se retirarão ilações, conclusões e/ou instruções para o futuro, e daqui por meia dúzia de meses, tudo parecerá ter voltado ao normal... o trabalho medíocre do topo a viver à conta dos milagres diários que as bases realizam.

Alguém pensou no impacto que tudo isto terá para a marca Trampolins?

Daqui poderão derivar "n" dissertações sobre problemáticas do nosso desporto, mas num só processo conseguiu-se juntar grande parte delas. Uma análise individual que poderá ser desenvolvida no futuro.

i) falta de um projecto coerente e objectivo a nível nacional;
ii) falta de execução rigorosa, análise e correcção em tempo real desse mesmo projecto, ou de outro menos bom que haja (haverá?);
iii) politização do dirigismo desportivo;
iv) demagogia dos dirigentes/políticos desportivos;
v) vulnerabilidade dos clubes à subsidiodependência para a sua sobrevivência;
vi) falta de profissionais dedicados às modalidades (treinadores/dirigentes de clube);
vii) alto empenho de treinadores, ginastas e familiares no desenvolvimento das modalidades, ainda que com fracos recursos vs o exibicionismo e despesismo das estruturas superiores;
viii) ...

Poderíamos enunciar mais umas quantas, mas gostaríamos que participasse...

Uma última nota. Os trampolins são apenas uma modalidade entre tantas outras que deverão atravessar crises semelhantes ou ainda mais graves.


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